3. Relatividade


A saúde é um bem pessoal e intransferível,
fruto da harmonia de cada pessoa com
o meio em que vive


A única certeza, parece-me, é que médico algum, seja de qualquer orientação ou especialidade, pode garantir a cura de todos os seus pacientes.

Aquele que  não tiver tido nenhum insucesso profissional, que não tenha sido abandonado por um paciente no meio do tratamento, atire a primeira pedra! Nesta, como em todas as áreas do fazer humano, não existe infalibilidade. Antes de tudo, o médico é um ser humano lidando com outro ser humano. Isto pode ser ótimo, se houver afinidade entre ambos, mas péssimo, se surgirem desconfiança, desentendimentos, ou se as expectativas mútuas não se realizarem. Sem contar que entre o ótimo e o péssimo existem infinitas nuances...

Acredito em inúmeras possibilidades de tratamento, uma para cada ser humano ou, melhor, uma para cada situação. Seja qual for a orientação escolhida, se tradicional ou alternativa, a maneira em que cada pessoa segue um tratamento é individual. Podem também ocorrer imprevistos, esquecimentos ou confusões que muitas vezes passam despercebidos e que levam para um rumo totalmente diferente do planejado. É difícil que alguém siga as prescrições com exatidão absoluta e muitas vezes a orientação do médico não é suficientemente clara. Nem sempre o profissional descobre que o paciente, no meio do tratamento, tomou sem pensar ou por hábito, pílulas para emagrecer, calmantes, estimulantes, excesso de bebidas alcoólicas e por aí vai. Essas atitudes podem interferir no resultado da medicação e o médico fica coçando as barbas sem entender porque o tratamento não correspondeu às expectativas. São casos de falta de comunicação ou de sintonia entre médico e paciente. O ideal seria que este último recebesse todos os esclarecimentos possíveis sobre a ação dos remédios e, por sua vez, seguisse direitinho a orientação médica. Dificilmente isso acontece. Aliás, nem sempre o paciente lê a bula dos medicamentos, e às vezes essa leitura até confunde, mais do que ajuda...

Além da falta de integração médico-paciente, outro problema é o preconceito que impede às pessoas de aceitar um leque maior de opções de tratamento, quando o tradicional falha. Por um lado, alguns são radicais e confiam apenas num tipo de orientação médica; outros atiram-se a esmo em qualquer experiência ou novidade.

Os próprios médicos costumam ser radicais e dificilmente extrapolam sua própria especialidade. A visão holística da saúde, por enquanto, existe mais como expressão, raramente como prática. Essa visão exigiria do médico o conhecimento e o respeito para as inúmeras formas de tratamento que a ciência, a experiência e a tradição nos oferecem. Estamos longe de um mundo onde o paciente deixe de ser objeto e se torne sujeito da medicina, respeitado a ponto de receber todas as informações sobre seu estado de saúde e poder opinar sobre as formas de tratamento.

Os problemas de saúde podem ter causas muito profundas e o tratamento mais adequado para cada caso não é o que suspende temporariamente os sintomas, mas o que efetivamente cura, mesmo que a longo prazo. Quanto mais o tratamento atingir as causas profundas do desequilíbrio, maiores transformações ele opera no estado de saúde do paciente, como um todo.

A desnutrição, por exemplo, pode ser causada por inúmeros fatores, isolados ou em conjunto. Pode-se tratar da real falta de nutrientes na alimentação, ou de problemas de metabolismo, de disfunções hepáticas, de vícios alimentares que roubam substâncias preciosas do organismo, de intoxicação por metais pesados que vão aos poucos minando o organismo etc. Qualquer médico, melhor do que eu, poderia acrescentar ainda outros fatores. As causas, também, podem ser mais ou menos recentes. Cada caso é um caso. Se o médico tiver a mente aberta, poderá elaborar o tratamento que case com cada paciente ou situação.

Outro exemplo: uma prisão de ventre crônica poderá ser curada por uma mudança básica de alimentação, mas também de várias outras formas, como a hidroterapia, a prática de Yoga, o uso de extratos vegetais, sessões de acupuntura, ou pela combinação de vários tratamentos. Só não vale acreditar que a solução possa vir através de remédios que apenas irritam as mucosas do intestino...

A meu ver, a escolha dos meios de tratamento depende do histórico de saúde do paciente, sua vitalidade e também sua opção pessoal. Os resultados também serão todos profundamente diferentes, isto é, o paciente não sairá curado apenas de uma prisão de ventre... Um tratamento adequado provoca grandes transformações no funcionamento do organismo, que atingem órgãos, nervos, vasos sanguíneos e a própria vitalidade/energia da pessoa.

Diga-se de passagem que a maioria dos pacientes nem desconfia que o efeito de um medicamento para prisão de ventre possa ser a simples irritação da mucosa, para provocar o esvaziamento do intestino. Essa é uma técnica tão paliativa e primária quanto provocar o vômito após abusar da alimentação.

Raramente, o paciente vê respeitado seu direito de receber explicações e esclarecimentos, mesmo quando faz perguntas específicas. Em geral, os médicos costumam responder de forma rápida ou até ríspida. Uma amiga passou um ano de profunda depressão, a ponto de tentar o suicídio. Na internet, descobriu que um medicamento que havia tomado para combater um cisto poderia provocar esse efeito colateral. Pediu explicações ao médico que havia prescrito o remédio e recebeu desculpas, quando um esclarecimento prévio poderia ter-lhe poupado metade do sofrimento.

Eu vejo um sério risco no excesso de especializações médicas e na divisão da saúde em compartimentos. Na minha visão, a chave da saúde não está nas mãos de médico algum. Ele poderá ter encontrado a chave da própria saúde, mas não poderá emprestá-la a ninguém. 

A saúde é um bem pessoal e intransferível, fruto da harmonia de cada pessoa com o meio em que vive. É preciso conhecer nosso próprio organismo e o mundo que nos rodeia, até encontrar o eixo de equilíbrio, que também vai mudando de acordo com as nossas transformações e as do meio. Tudo está em constante mutação...

Muitas coisas contribuíram e ainda contribuem para o meu despertamento, desde minha própria experiência de criança doente, os livros de grandes naturistas, o conhecimento de terapias corporais, o contato com a filosofia oriental, a cromoterapia e muitos outros estudos de grande significado para mim. Tudo isso resultou em décadas de práticas de saúde, durante as quais tive três filhos que durante a infância não tomaram medicamentos químicos, vacinas ou injeções, salvo em caso de acidentes, o que aliás veio a comprovar a excelência da medicina tradicional nas emergências.

Estou aqui falando de trinta a quarenta anos atrás. Hoje, provavelmente, eu agiria de outra forma com respeito às vacinas, pois a poluição ambiental aumentou muito e os alimentos têm perdido muitos nutrientes, ou seja, as autodefesas de uma criança de hoje são menores do que naquela época. 

Demorei décadas para compreender os processos que constróem a saúde, e continuo estudando. A chave da compreensão está na visão de passado, presente e futuro, que, porém, dentro de uma visão ampla, são a mesma coisa... É de dar nó na cabeça, não é? Então, vamos desatar!...


(Na dúvida sobre a ordem dos capítulos deste livro, volte para o Índice.)

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