1. O encontro



Na conquista da saúde, não estamos ainda nem engatinhando. 
Estamos nos arrastando no chão. 
E o risco é o maior possível: risco de vida.

Imagem da via láctea

Estou sozinha. 

Todos estamos, na hora de fazermos uma opção vital. Esta é sempre pura e somente nossa. A solidão cria o equilíbrio. É na solidão que descobrimos a melhor companhia: a de nós mesmos. Nesta companhia podemos confiar sempre, quando nos aceitamos como os melhores amigos e parceiros, sem medo de deixar aflorar nossas fragilidades.

Precisamos ter coragem de nos olhar de frente, com nossas dúvidas, contradições, preconceitos e tudo o que confirma que somos... humanos. Parar de nos esconder atrás de sentimentos de superioridade. 

Nossa maior força reside na consciência de nossas limitações: é o primeiro passo para se encontrar consigo mesmo. Esse encontro nos permite fazer opções com serenidade e aceitar nossa pluralidade, a consciência de tudo o que podemos ser e vir-a-ser.

Essa tomada de consciência é também uma opção pessoal. Precisamos ser filósofos. Não delegar a ninguém o ato e o direito de pensar por nós. 

Sempre fui - com muita honra - uma filósofa de fundo de quintal. Em tempos idos sofria pela incapacidade de aceitar naturalmente o que tentavam me inculcar. Tinha discussões  homéricas com meu pai, que não se conformava de eu querer ter opiniões, ainda na infância...

 Eu tinha a impressão de ter vindo de outro planeta. Mas um dia "atravessei as grandes águas", como diria o amigo I Ching*. Mergulhei numa experiência só minha, sem viagem de volta, e me tornei aos poucos cada vez mais confiante em mim mesma. Meus pés começaram a pisar mais firmemente neste planeta e, ao mesmo tempo, comecei a me sentir cidadã do universo.

Esta vivência tão marcante está ligada a um assunto que desde criança me intrigava e levava a refletir longamente: a saúde. Fui uma criança bastante doente até à adolescência. Isso me deixou a sensação de que sem saúde nada é completo, as atividades ficam truncadas, inibidas.

Na conquista da saúde estamos apenas engatinhando. Ou até nos arrastando no chão. Após esse insight comecei a escrever este livro de filofidências (confidências filosóficas), como um grito de alerta temperado com humor, já que a morte é inevitável e o objetivo da saúde não é atingir a imortalidade. Certo?...

Ao longo dos anos cheguei à conclusão de que eu não sou diferente. Todos somos, basta aceitar este fato. Somos pequenos planetas movendo-se dentro de uma atmosfera onde podemos criar nossas próprias órbitas, fazendo contatos, evitando dependências e colisões, aumentando cada vez mais nosso raio de ação. O teto é o infinito, dentro do qual somos grãos de poeira com chances de nos tornarmos sóis - desde que evitemos comparações e competições. Nossa meta só pode ser a superação de nós mesmos.


* I Ching - O livro das mutações


(Na dúvida sobre a ordem dos capítulos deste livro, volte para o Índice.)

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